João Vicente Goulart

(Texto do filho do Presidente João Goulart em palestra na Universidade Federal da Paraíba, no evento “Resistir ao esquecimento: Encontro com João Vicente Goulart”, João Pessoa-PB, de 17 a 19/05/2017, promovido pelo NCDH/CCHLA.)

Nesta oportunidade na Universidade Federal da Paraíba, depois de 53 anos do golpe de Estado de 1964, e onde hoje sofremos com a desestabilização democrática nacional, a partir dos acontecimentos que levaram a deposição de um governo legítimo da Presidente Dilma Rousseff, a contribuição que nós do Instituto João Goulart podemos oferecer neste momento é suscitar o debate de que está na hora de admitir que o BRASIL perdeu, e perdeu até hoje, a chamada Guerra fria.

Após mais de meio século da perda da nossa soberania, podemos encerrar a controvérsia, pois com a desclassificação dos documentos secretos norte-americanos estão definitivamente comprovados o patrocínio estrangeiro do golpe militar e o tamanho da farsa orquestrada em 1 de abril de 1964.

Veremos mais adiante as similitudes de hoje, um novo e modernizado golpe, transvestido apenas de nova roupagem que escondem os mesmos atores, com os mesmos interesses e as mesmas intenções do entreguismo da pátria, da soberania, das melhores oportunidades para aqueles menos favorecidos, da distribuição de renda, da cassação de direitos básicos de cidadania, da justiça social e dos Direitos Humanos, fundamentais ao homem para se alimentar, crescer, educar seus filhos e ter direitos a cultura para poder também, fazer crescer sua alma e saber o lugar de sua existência na vida e seu papel no mundo.

Quantas calúnias, injúrias e difamações sofreu a memória de meu pai, João Belchior Marques Goulart, após aquele, hoje longínquo 1964?

Hoje, uma compreensão mais exata do processo de perda de nossa soberania demonstra, de forma inequívoca, que Jango foi sábio o suficiente para recusar uma guerra civil sangrenta e planejada para quebrar a unidade nacional. Jango, naquele instante, não teve como evitar a derrota de nosso país, mas é hoje, sem dúvidas, diante da história do Brasil, o maior responsável pela integridade nacional que ainda perdura!

Sim, o objetivo estratégico do golpe de 1 de abril de 1964 era uma guerra civil que inviabilizasse o nascimento de uma nova potência mundial no hemisfério Sul do planeta. Esta era a previsão da CIA, e mais uma etapa da “guerra fechada” promovida contra o nosso país desde 1945. Ora, as dívidas de sangue não se apagam. Onde existem dívidas de sangue morre o bom senso, ninguém perdoa ninguém, os ódios se acirram e irmãos tornam-se inimigos.

Uma guerra civil sangrenta, em 1964, teria por resultado o separatismo, uma nação dividida territorialmente, como o imperialismo político da guerra fria naqueles anos já tinha feito em países autônomos, como a Alemanha, a Coréia, o Vietnam, ou então teriam transformado o Brasil em um Líbano. Era a morte certa da 4ª Potência mundial.

Talvez poucos brasileiros tenham registro na memória que a popularidade de João Goulart na época do golpe militar alcançava a cifra de 80%(oitenta por cento) do eleitorado.

Recentemente foi divulgada uma pesquisa realizada em 15 de março de 1964, pelo IBOPE que nos traz este número; pesquisa esta, escondida na UNICAMP e só recentemente divulgada.

O apoio de grande parte das forças armadas pode ser medido pelo fato dos golpistas precisarem afastar mais de 4.000 militares legalistas para consolidar a ditadura. A CIA contava com a resistência legalista!

Foram cassados mais militares do que civis!!!

A proibição de pegar em armas para resistir dada por João Goulart aos legalistas, pegou os mentores do golpe militar desprevenidos, pois do mesmo modo que Getúlio Vargas fez em outubro de 1945 diante do golpe apoiado pelo embaixador Adolfo Eberle, o exílio voluntário de Jango anunciava seu retorno quando o processo democrático fosse restabelecido. Tal como Vargas 1950!

Daí somos obrigados a rever a morte do Marechal Castelo Branco, um marionete que não conseguiu nem ganhar a eleição para o Clube Militar em 1962, mas tinha assumido o compromisso público e moral de promover eleições democráticas em 1965. Como poderiam deixar o marechal promover eleições e restabelecer a democracia, se sob a legalidade, e a pesquisa escondida demostra isso, Jango era imbatível?

Este é o legado político de Jango! A integridade nacional. Ele sabia que por detrás dos traidores da pátria estava a maior potência militar do planeta e que não havia vitória pelo caminho das armas. Jango renunciou ao maniqueísmo estrangeiro que já tinha articulado o separatismo, conforme mostram os documentos desclassificados com a possibilidade de declaração de independência do Estado de Minas e o desembarque de tropas estrangeiras, caso houvesse resistência dos legalistas contra a insurreição militar!

Jango diminui o tamanho da derrota do Brasil com seu exílio voluntário em 1 de abril de 1964, mas o que precisamos entender é que a queda do governo de João Goulart representou um dos ápices da “guerra fechada” promovida contra a América Latina.

O Brasil era um dos principais baluartes da democracia, da autodeterminação e independência dos povos. A queda do Brasil teve um efeito dominó sobre as demais democracias latino-americanas.

Uma a uma, as democracias Latino americanas foram sendo golpeados pelos mesmos golpes civis-militares, chegando ao ponto de em 1976, as nações de nossa querida América Latina, das veias abertas de Eduardo Galeano, eram ditaduras militares.

No Brasil de hoje precisamos entender a extensão da derrota que sofremos. Como aconteceu a perda de nossa autodeterminação e de nossa vontade soberana? Precisamos entender que nossa submissão à potência hegemônica foi resultado de uma estratégia de guerra…

Ora, o que é uma guerra? Clausewitz dizia que “a guerra é mais que um duelo em grande escala. A guerra é um ato de violência que visa compelir o adversário a submeter-se à nossa vontade”.

Outro estudioso, Hans Del Bruk teria sido o primeiro a assinalar que como havia duas formas de guerra, limitada ou ilimitada, deduz-se que deve haver duas modalidades de estratégia: a da aniquilação e a da exaustão. Enquanto na primeira, a meta buscada é a uma batalha decisiva na forma convencional; na segunda estratégia da exaustão, a batalha representa apenas um dos vários meios utilizáveis, que incluem o ataque econômico, persuasão política e a propaganda para que o fim político seja alcançado, muitas vezes por meios de sicários infiltrados nas nossas instituições políticas, legislativas e judiciárias.

A estratégia de exaustão não foi concebida por Del Bruck, pois Frederico, o Grande, já a chamava de Estratégia dos Acessórios e, na verdade, o emprego dela tem sido glorificado por séculos. A estratégia da exaustão era chamada de tática da Espada embainhada pelo chinês Sun Tzu, que afirmava em seu livro sobre a Arte da Guerra:

“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.

Especialistas afirmam que o advento das armas nucleares e que o uso da bomba atômica sobre a cidade de Hiroxima praticamente tornou obsoleta a guerra convencional. A estratégia da exaustão passou a preponderar na guerra moderna depois de 1945, sendo realizada por meio de ações indiretas ou espoliativas. Guerra de infiltração no meio e no arcabouço das estruturas institucionais que compõem o funcionamento do Estado, tidas estas estruturas pela maior parte da população, como magnânimas, incorruptíveis e distante entre um camponês analfabeto e sua excelência um juiz de direito.

Em que consistem as ações indiretas da estratégia da exaustão?

Podemos citar o general romano Flavius Vegetius:

“E melhor dominar o inimigo, impondo-lhe a fome, surpresa ou terror do que por uma ação geral, pois nesta, a sorte tem amiúde preponderado mais que o valor!

Do ponto de vista dos especialistas podemos considerar a “guerra fechada uma doença do organismo social e podemos afirmar que os sinais sintomáticos que nos permitem diagnosticar sua existência são: a Miséria, a Ignorância, o fomento da Violência, a Insegurança e, principalmente, a Quebra da Autoridade Moral dos dirigentes através de uma mídia comprometida.

A Miséria resulta num quadro de injustiça que impossibilita o crescimento do organismo social, pois estabelece um conflito interno que retira energias da sociedade.

Como promover a miséria de outro estado?

A queda do Governo João Goulart, não se dá contra ele, em si.

O fantasma do comunismo é tirado da manga por determinação do Departamento de Estado Americano, que não queria retaliação contra seus interesses que seriam feridos pelas “REFORMAS DE BASE” de Jango, aqui no Brasil.

O golpe é desferido não contra o governo, e sim contra um Projeto de Nação que surgia nas ruas, universidades e praças públicas, e no debate de uma nova sociedade. Era o Brasil da Bossa Nova, do Teatro de Arena, do Cinema Novo. Se analisarmos detidamente o processo histórico das conquistas sociais brasileiras veremos que no Brasil, historicamente, vem se adiando a Reforma Agrária desde a abolição da escravatura. Uma redistribuição de riquezas que era necessária para nossa pacificação social – um desafio que o Governo de João Goulart resolveu enfrentar porque tinha uma agenda de interesses nacionais junto ao povo Brasileiro, a cumprir!

A principal arma utilizada para promover a miséria tem sido a usura. O sistema financeiro nada produz até hoje e não produzia naquele então. A cobrança de altas taxas de juros retira todo o excedente de riqueza da sociedade, estanca o crescimento econômico, estanca a criação de empregos e estanca a consequente melhoria de vida do trabalhador!

Principalmente, depois do Golpe de 1 de abril de 1964, o Brasil vem mantendo uma das mais altas taxas de juros do mundo. Mesmo assim, o mínguo crescimento que tivemos após a redemocratização do país em 1989, é porque o governo de Jango, ao criar meios de financiar o sistema Eletrobrás em 1962, estabeleceu a expansão da matriz energética que sustentou o “Milagre Econômico”, e hoje todo este sistema de distribuição energética e de comunicações, já entregue ao capital estrangeiro, como fez Fernando Henrique Cardoso com a EMBRATEL, que foi uma vitória do Governo João Goulart, está na iminência de ser doado as teles operadoras no Brasil, pelo valor de 120 bilhões de reais de patrimônio, anistia de mais 20 bilhões de multas devidas aos consumidores brasileiros por serviços mal aplicados, e ainda por cima com remessas de lucros nos últimos três anos de 38 bilhões de reais para suas matrizes.

Aqui quero, como brasileiro deixar constada minha repulsa a este projeto de traição à pátria, do Ministro Kassab que quer cometer esta atrocidade de Lesa-pátria contra o povo brasileiro.

Voltando a ao golpe de 1964, a drenagem de recursos público pelo Estado brasileiro dos governos ilegais: o bem-estar criado pelo “milagre econômico teve pouca duração diante do processo hiperinflacionário da década de 80”.

Outro exemplo de usura que exauriu recursos e fez cair o padrão de vida obtido pela classe média na década de setenta. Todo nosso excedente de riqueza é drenado pelo sistema financeiro e pelo endividamento do Estado.

A manutenção das altas taxas de juros de hoje não encontra justificativa na atual economia do planeta e é sintoma de que permanecêssemos sob tutela alheia. O Brasil já perdeu tanta riqueza!

Em termos econômicos o Brasil perdeu o “negócio da China”. A leitura da crise de 1961, legalidade posse parlamentarista sob o ponto de vista da guerra fechada nos mostra que o objetivo principal da intervenção externa era impedir a consolidação do acordo de Pequim.

Vejamos qual a meta econômica visada pela guerra fechada: nós éramos 60 milhões de brasileiros e iríamos exportar para 800 milhões de chineses todo tipo de produto de alfinete à navio – o maior negócio da História da Humanidade.

O assunto era tão sério que o plano de invasão norte-americano do território do Brasil data do ano de 1961. A solução da crise pela implantação do parlamentarismo atendeu os interesses externos, pois entre os poderes do primeiro ministro estava a decisão de ratificar ou não os acordos internacionais…

Alguém quer calcular o tamanho do prejuízo que tivemos ao perder o “negócio da China”? Basta pensar que o segundo país a procurar a China foram os Estados Unidos, quando o dólar deixou de ter lastro em ouro e desvalorizou 70% gerando uma crise econômica que nunca foi causada pelo preço do petróleo. Nixon foi à China, a guerra do Vietnam acabou e nós perdemos os frutos de um comércio bilateral explorado intensamente pelos norte-americanos desde 1971. Na verdade, o capitalismo brasileiro também foi derrotado a partir da década de 60 mediante uma estratégia de espoliação para gerar miséria no Brasil…

A estratégia da ignorância também foi utilizada contra o Brasil, primeiramente pelo uso da propaganda e da desinformação. Os documentos da CPI do IBADE mostram como a imprensa e os meios de comunicação sofreram uma investida irresistível. A imprensa nacional foi definitivamente contaminada, pois já vinha sendo utilizada para atacar o trabalhismo de Vargas.

No Governo João Goulart, a propaganda e a desinformação foram intensificadas! Além de derramar recursos em todo território nacional arrendando redações, contratando e demitindo jornalistas fornecendo recursos ao IBADE, a CIA por meio do IPES presidido pelo General Golbery do Couto e Silva enviava um “informativo” semanal para a maioria dos oficiais da ativa das forças armadas, promovendo um recrutamento ideológico e buscando desestabilizar o governo por meio da difamação e da calúnia. O levantamento da pesquisadora Denise Assis, mostra que entre 1962, ano do plebiscito que devolveu ao Presidente João Goulart seus poderes presidenciais e assim o governo, junto ao povo nas praças públicas, parte para realizar as reformas que a sociedade se havia proposto, foram produzidos 200 filmes de propaganda pró-golpe de 1964. Um filme a cada três dias…

É óbvio que o desmantelamento da Universidade Brasileira também pode ser creditado à estratégia da exaustão pelo fator da ignorância, mas o maior exemplo que podemos citar é fim do programa de alfabetização de adultos, criado por Jango em 1963 com o apoio do educador Paulo Freire. Em 1969, os analistas da CIA chegaram a conclusão que o programa de alfabetização precisava ser desativado porque estava levantando o nível de consciência política dos brasileiros…

A educação freiriana leva o ser humano ao conhecimento e razão da sua existência na vida e seu compromisso com seus semelhantes…

Dá raiva saber disso, mas é preciso ter consciência de que ele usa o fator da Violência na Estratégia de exaustão para criar a insegurança pública. A insegurança contamina toda sociedade e drena energias que poderiam ser usadas para o bem-estar social. Existe um estudo de uma pesquisadora norte-americana que explica que o súbito desmantelamento da polícia comunitária criada por Getúlio Vargas em 1933, a famosa dupla Cosme e Damião, tinha por objetivo desestabilizar a sociedade e favorecer o golpe de Estado com a quebra do aparato.

A retirada do policiamento das zonas pobres e periféricas teria ocorrido nos anos de 1957 e 1958, por influência do FBI e da CIA. Realmente. No ano de 1958, o Morro de São Carlos no Rio de Janeiro desceu para o asfalto para protestar contra a retirada do policiamento comunitário ali instalado há 25 anos: “Se retirar a polícia, a bandidagem vai crescer, seu doutor!”.

Uma pesquisa mais atenta dos acontecimentos próximos das eleições de 1960 vai apontar a promoção de diversos atentados à bomba sem autoria e sem explicação! Os documentos secretos em posse do Instituto João Goulart mostram que havia um atentado à bomba planejado para acontecer no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, do qual os traidores desistiram para não criar um mártir.

Todos estes fatores da estratégia de exaustão trabalham para a divisão e a desintegração do organismo social, mas uma das piores feridas é provocada pela quebra da autoridade moral pela traição e pela corrupção.

A contaminação das forças armadas brasileiras tem início na Itália e tem entre seus personagens a pessoa de Vernon Walters conhecido pela capacidade de interrogar, quebrar a resistência e converter os soldados alemães em colaboradores. Em 1942, os norte-americanos tinham 11 (onze) centros de inteligência militar instalados no Brasil. Toda rede nazista de espionagem no Brasil foi herdada pelos Serviços de Inteligência norte-americana e monitorada pelo futuro diretor da CIA Allen Dulles. Em 1942, Golbery frequentava uma academia militar nos Estados Unidos. Em 1943, 3 (três) geólogos norte-americanos foram enviados ao Brasil para fazer um levantamento das jazidas minerais que os Estados Unidos classificaram como reserva estratégica…

A quebra da autoridade moral se dá pelo uso da calúnia. A calúnia tem a natureza do carvão quando não queima suja. Foi intensamente usada contra Getúlio Vargas, pois era preciso desmistificar o “Pai dos Pobres”. E para isso se criou uma mentira fortíssima, acusaram Getúlio de mandar uma mulher grávida para os fornos nazistas, quando Olga Benário foi extraditada por ordem do Supremo Tribunal Federal em 1936, antes do Estado Novo.

No caso do crime da Toneleiros, a mentira continua. O delegado Pastor que presidiu o inquérito deste atentado confirmou em vida que o Major Vaz tinha dois tiros cruzados no coração, pelo que existiam dois atiradores de elite, e por consequência, podemos deduzir que Carlos Lacerda, o tal que engessou o pé ferido por bala, nunca foi o alvo real…

Golbery esteve presente em todas as insurreições militares desde o golpe de outubro de 1945 até o golpe de 1 abril de 1964! Golbery escreveu o manifesto dos ministros militares contra a posse de Jango e presidiu o IPES, sendo assalariado pela CIA. O corpo de espionagem norte-americano no Brasil inclui o embaixador brasileiro e sua esposa em Cuba em 1961, que recrutaram a irmã de Fidel para trabalhar para a CIA.

O embaixador Pio Correa, antes de criar o Serviço de Informações do Itamaraty, fez trabalho de campo como espião para a CIA no México, recebendo elogios da Agência norte-americana em 1964, antes de ser nomeado embaixador no Uruguai para vigiar o presidente no exílio.

Jango foi alvo de uma intensa campanha de difamação. Antes, durante e depois do governo, foi acusado de comunista. Jango nunca foi comunista, mas, como de fato ficou registrado pelo próprio Kennedy em gravações na Casa Branca, admitia que o presidente brasileiro não fosse, mas que esta difamação seria uma das armas usadas contra ele.

Jango no exílio foi alvo de mais de 200 processos promovidos para manchar sua reputação e honra, mas se defendeu em todos e provou sua inocência. Jango foi acusado de presidir um governo fraco, mas na verdade a história demonstra que reuniu um ministério de notáveis e desenvolveu um projeto de nação capaz de gerar o desenvolvimento nacional.

Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Waldir Pires e Raul Riff, eram alguns dos tildados “incapazes” e fracos do governo João Goulart.

A quebra da autoridade moral não está circunscrita a pessoa do presidente João Goulart, foi estendida a todos os homens comprometidos com o nacionalismo e dois anos antes do golpe, um relatório do setor de informações já apresentava a lista de todos os homens do governo Jango que seriam caçados e perseguidos em 1964.

Diversas “covers actions”, formas promovidas contra o brasil e a diversificação, o número e os recursos envolvidos são espantosamente altos. O pesquisador Carlos Fico, da UFRJ, lista dezenas de tipos de ações encobertas no seu livro o “Grande Irmão” cuja conclusão deixa a desejar, pois responsabiliza os brasileiros pelos resultados de uma irresistível Guerra Fechada promovida por meio de ações indiretas.

A CIA patrocinou a campanha de deputados e senadores que fizeram e/ou permitiram a fraude da declaração de vacância da presidência. A CIA também patrocinou passeatas e usou o manto sagrado de Deus e da Família para recrutar colaboradores em todas as camadas de nossa sociedade. O mais incrível é que foram liderados nessa “Marcha por Deus e pela Família” por um padre americano, Padre Peyton, importado diretamente dos EUA para liderar os brasileiros. (Hoje são liderados, parece, por um japonês ou coreano, Kim Kataguiri, do LBL em vez de bota, sabe o esconderijo das togas de hoje.)

Hoje, estas pessoas, autoridades, senadores, deputados, generais, empresários, funcionários públicos e muitos outros só podem ser considerados inocentes úteis ou traidores na História do Brasil. Dizem que a História se repete, uma vez como tragédia e outra como farsa. O departamento de Estado norte americano e a Cia tiveram de cumprir leis e divulgaram provas suficientes de que Jango é o mártir da causa republicana no século XX. Perdemos nossa soberania em 1 de abril de 1964!

A difícil decisão de Jango de combater o golpe sem fazer uso das armas, preservou nossa integridade territorial. O que fazer? Ficar em silêncio quando finalmente existem documentos que desautorizam a continuidade da Mentira e desnudam a verdadeira face dos golpistas como traidores do Brasil!

Maior autoridade diplomática norte-americana no Brasil de 1964, o embaixador Lincoln Gordon veio ao nosso país em 2002 vender a confissão que a CIA tinha patrocinado golpe e a eleição de membros do congresso nacional!

O que fazer? A família Goulart decidiu processar o governo norte-americano que descumpriu sua própria carta constitucional e todos os compromissos de Estados assumidos pelos Estados Unidos da América, mediante a subscrição da Carta da OEA.

O Brasil precisa conhecer o valor do Estadista que preservou a unidade nacional, quando a tirania tomou conta do Brasil. Jango precisa receber o desgravo devido ao líder legítimo desta nação, que foi alijado da presidência por forças e interesses estrangeiros e de traidores.

O verdadeiro resgate da soberania nacional começa com o desagravo e o reconhecimento públicos do valor da resistência pacífica de Jango contra a insurreição militar dos traidores de nossa pátria, que preservou a integridade nacional.

Acreditar que não podemos mudar nosso país e que precisamos nos conformar com a situação é obedecer a psicologia de massa usada como amortecedor pelas forças que atuam para impedir o exercício de nossa soberania!

Acreditamos que, neste momento, a defesa da soberania do Brasil precisa obedecer aos princípios consagrados pela política de Estado de Jango: Resistência Pacífica, Legalidade, Diálogo, Democracia e Justiça Social!

Por fim, alguns trechos do discurso do presidente João Goulart, em 13 de março de 1964, no comício das Reformas, na Central do Brasil:

“Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações.”

“A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do antissindicalismo, antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos que eles servem ou representam.”

“A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras.”

“É a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais.”

“É a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.”

 

 

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