Mês: abril 2016

ÂngeloTalvez a melhor função de um trabalhador intelectual que se pensa solidário a algum movimento social – e a palavra social aqui não está colocada gratuita nem casualmente – seja a de estabelecer algum apoio crítico (e não incondicional), que aponte eventuais problemas e sugira alguns elementos para a reflexão, que é uma condição necessária para uma ação efetivamente transformadora dessa mesma sociedade. Poderá se questionar com alguma boa dose de razão: por que alguém que não sofre exatamente na pele esses problemas, tem direito de dar algum “pitaco” sobre aquilo que não é da sua conta? Exatamente por não sofrê-los diretamente na pele, talvez isso possibilite obter uma sensibilidade/percepção particular para essas questões e apontar dimensões não percebidas numa outra condição, mais ou menos como: quem está de fora, vê diferente. Enfim, todo o apoio crítico merece ser igualmente criticado e o próprio exercício da contradição pode nos permitir afiar os argumentos intelectuais, aporte mais que necessário ao bom encaminhamento das boas lutas.

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rosaA primeira de todas: nunca existiu nem existe historicamente um Nordeste

Leitores/Consultores: Maria de Fátima Rodrigues – Departamento de Geociências/UFPB

Ângelo Emílio da Silva Pessoa – Departamento de História/UFPB

Algumas das representações mais usuais das postagens xenófobas anti-Nordeste e (os) nordestinos, já desde a campanha eleitoral, e intensificadas após a eleição, foram:

  • Visão generalizada do território nordestino como lugar da miséria, da burrice e da ignorância;
  • Visão generalizada de um território onde as pessoas não trabalham, são vagabundas e vivem de Bolsas Família, pagas pelo Sul, Sudeste;
  • Lugar onde os pobres se reproduzem como ratos, fazendo filhos para serem sustentados sem trabalhar;
  • Lugar onde as pessoas vivem mamando nas tetas do Governo;
  • Povo que merece passar fome e seca/sede;
  • “esses nordestinos pardos, bugres, índios, acham que têm moral, cambada de feios”
  • E, culminando: “nordestino não é gente”.

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rosaEsse pequeno texto é uma introdução ao tema. Pretendemos retomar os aspectos aqui colocados em textos subsequentes.

Resolvi elaborar uma série de pequenos artigos sobre a xenofobia antinordestina pós-eleitoral por obrigação profissional e moral.

Profissional porque sou professora de História e, em particular, de História do Brasil, desde os 18 anos de idade. Ainda nesse campo, porque, durante muitos anos, estudei o regionalismo nordestino. Moral porque, sendo estudiosa, professora e militante dos Direitos Humanos, não posso compactuar com preconceitos, segregações, desqualificações, de pessoas contra pessoas.

E o assustador é o que essa atitude odienta e preconceituosa revela de desestorização, ou falando mais claramente, de ignorância histórica.

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